sábado, 6 de fevereiro de 2021

Cuida dos meus pais

 Deus,

Ultimamente tenho buscado me aproximar de Ti. Agradeço todos os dias por minha vida e de todos que amo. Peço por tua proteção divina. Mas nos últimos dias tenho pedido pela saúde de meus pais, acometidos pelo COVID. Mamãe andou me assustando e eu tive que correr para acompanhá-la por 05 longos dias internada. Não há nada mais triste que ver um amor assim doente, numa cama de hospital e tudo o que você sabe sobre esse virus só te causa medo e tira sua paz. Mas Tu é Deus e protegeu minha mamãe e a levou para casa. E a cada dia ela só melhora 🙏🏼 Meu Jesus, pede pra Deus não testar meu coração desse jeito mais não 😅 Gratidão por tudo!

Bodas de Flores e Frutas

 Hoje chegamos a 4 anos de muito amor, mas também de choro, lutas, distância pelas missões Brasil afora, saudades, partidas & chegadas. Temos 3 filhos de quatro patas e um anjinho no céu. Comemoramos as lindas Bodas de Flores e Frutas, que significam uma fase de amadurecimento da relação. As flores são frágeis e precisam ser regadas e nutridas para que se mantenham fortes. As frutas fazem menção à tão sonhada fertilidade e à vitalidade do casamento. 

Só posso agradecer a Deus por estarmos tão bem casados, enfrentando esses tempos tão áridos. Sei que ficaremos bem velhinhos juntos e isso deixa meu coração quentinho. Amo muito esse gatinho ❤ 

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

 24/09/2020

O passado pertence ao passado

Há um tempo voltei a fazer terapia semanal, o que me enriquece muito como ser humano. E esses dias uma reflexão me tocou profundamente. Por vezes me questiono o motivo pelo qual não consegui engravidar de novo. E uma das explicações que sempre me vinha à tona é que estou "pagando" por atitudes erradas do passado. Na minha cabeça, ainda preciso evoluir mais, aprender mais, para ser capaz e merecedora da graça da maternidade, uma vez que meus exames e do meu marido estão todos normais... No entanto, há tantos casos de mulheres teoricamente despreparadas para serem mães e que abandonam seus filhos por aí... Quantos relatos já me chegaram de mulheres drogaditas que engravidam e largam os bebês nos hospitais logo após o parto...

Ouvi já inúmeras vezes que o Nosso Deus não é um Deus de punição. Ele não nos condena por erros dos quais nos arrependemos verdadeiramente. Não há uma "dívida eterna". O olhar de Deus é misericordioso, de amor... Então por que eu me cobro tanto se já fui perdoada no exato momento em que reconheci que agi errado e me arrependi de todo o meu coração? Melhor ainda, não voltei a repetir esse "pecado". Aprendi a lição. 

Minha terapeuta me mostrou que trato as pessoas ao meu redor com bondade e não tenho essa mesma doçura comigo mesma. Temos que ser menos duros em nosso auto-julgamento. Não somos perfeitos. Aliás, ninguém o é, somente Deus. E nem mesmo Jesus Cristo agradou a todos... 

É preciso deixar o passado descansar lá nas gavetas do que já se passou. É necessário e salutar fazer essa travessia. Não se pode reescrever o que já vivemos. Minha maturidade de hoje veio exatamente das experiências vividas páginas atrás e da reflexão do que eu poderia melhorar em mim. Não há caridade em me cobrar por ter agido assado e não assim... Não posso voltar para apagar o que poderia ter sido diferente. Como diz a música do Biquini Cavadão, "como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça"...

Que aprendamos a nos amar com nossas imperfeições, com nossas cicatrizes, sem nos punir uma vida inteira por ter agido errado. "Olha que já estás curado; não peques mais." Está escrito no livro sagrado. Então quem sou eu para não me perdoar?

sábado, 5 de setembro de 2020

Cada um de nós tem uma missão

 05/09/2020


Pouco mais de 1 mês atrás, saí em missão para Boa Vista. E sobrevoando a selva, com destino a Minas Gerais, tive tempo suficiente para refletir a respeito da situação. Éramos 7 militares envolvidos nesse retorno de um filho, um marido, o pai, o irmão de alguém... Estávamos no transporte da urna funerária do esposo de uma militar nossa. Ele morrera subitamente aos 37 anos de vida. Antes de embarcar, eu a recebi ao pé da escada da aeronave. Só vi dor em seus olhos. Tempos de pandemia, todos estávamos de máscara; ela, com os olhos tristes, de uma dor profunda... 

Minutos antes eu havia reclamado da demora em solo. Pensei no longo caminho que iríamos sobrevoar para terminar a missão. Eu só desejava que as horas voassem ainda mais rápidas até o dia seguinte, quando voltaria enfim pra casa. Mas todo o meu "egoísmo" imediatamente se envergonhou ao perceber aqueles olhos.

O ser humano em mim lembrou que somos pequenos demais diante da dor do outro. E me coloquei no lugar da jovem viúva. Eu rezei por eles durante alguns minutos. Pedi desculpas a Deus por ter pensado em mim. Aquele olhar de tristeza ainda iria me acompanhar por muito tempo...

Achei um pequeno texto que falava de gratidão mesmo em momentos difíceis da vida. Transcrevi a mensagem e no fim disse que ela entregasse toda sua dor a Deus pois Ele saberia como a acolher. Escrevi tudo numa folha da agenda dos dias 16 e 17 de abril. Ela, ao terminar de ler, me contou que dia 17 era a data do seu aniversário. Então ela sabia que Deus havia mandado mesmo aquela mensagem. São as maravilhosas coincidências divinas. E a gente ainda acha que controla algum minuto de nossas vidas... Bobinhos...

Vamos pensar: se eu tivesse engravidado ou com bebê pequeno em casa, como estaria nessas missões? Como largar marido, bebê, 02 cachorros e 01 gatinha resgatada, pegar uma mochila e dizer: "Volto logo"? Meu coração já se encolhe de saudades em menos de 24h longe de casa... 

Já fiquei muitos dias e milhares de quilômetros longe de casa... Mas uma certeza eu levo comigo: cada um de nós tem uma missão a cumprir. Estávamos ali atravessando nuvens para devolver uma pessoa aos seus amados. O mais triste é que seria sua última viagem de volta para sua terra natal. E sua esposa faria o caminho de volta sozinha, com toda essa dor num olhar vazio de quem nem mais consegue chorar...

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

03/ago/2020

Hoje o dia foi muito corrido como há tempos não era... E eis que em meio ao furacão de reuniões, documentos, atendimentos, plantão, me chega um pedido para rezar com uma paciente e sua família. Desde cedo a filha havia me mandado mensagem contando da noite sem paz que a mãe tinha passado, referindo dores mesmo em uso de analgésico potente... Mas que resistia a aumentar a dose dos medicamentos para permanecer acordada e aguardar o filho que chegaria hoje à tarde para se despedir pessoalmente... E eu sabia que ela estava fazendo um sacrifício enorme para aguentar firme para beijar pela última vez esse filho tão amado quanto os outros, mas que morava longe. 

Nessa hora, ligo para o Padre e para o Diácono. Pelos desencontros da vida, eis que minha missão como ministra da Eucaristia também seria a de levar conforto espiritual a essa paciente e sua família. Eu já iria reavaliá-la como médica paliativista. Então por que não seria capaz de fazer essa oração com eles?

Não me perguntem de onde veio minha força para não chorar junto, nem de que gavetas saíram minhas palavras de conforto e fé. Realmente Deus capacita os escolhidos. Expliquei a Dona Alba* que estava ali para prescrever um remédio para aliviar seu sofrimento e também que iria segurar sua mão e rezar por ela. E enquanto sua medicação chegava da farmácia, já fiquei no quarto conversando com seus familiares e procurando o momento certo de me aproximar dela para enfim ser tão somente um instrumento de Deus.

Pois saibam que a oração veio, com toda a fé de quem crê num amanhã sem dor nem sofrimento. As palavras de consolo saíam de meus lábios sem medo de tocar a alma de quem estava ali tão fragilizado, tão ferido pela dor de ver sua mãe, sua esposa, sua sogra partir e nada poder fazer a não ser pedir a Deus que a levasse para um mundo melhor.

Ali, naquele quarto, segurando firme a mão de Dona Alba*, consegui aliar a Medicina Paliativa e sua técnica ao que temos de mais sagrado em nós: a empatia humana, o amor pelo próximo, o desejo de fazer o bem. Tive a honra mais uma vez de estar com uma pessoa que se despedia dos amores de sua vida. Fui testemunha do amor entre um marido e a esposa que deixa essa vida. Ouvi vários "Eu te amo" sinceros, completos, únicos... E agradeci a Deus e Nossa Senhora por me permitirem ajudar meus pacientes a fazer essa travessia com o mínimo de desconforto, de maneira quase indolor, serena, em paz... 

Eis que posso quase sempre vivenciar verdadeiramente o que resume o papel do médico: "Curar quando possível, aliviar quando necessário, consolar sempre."

*nome fictício da paciente